Há alguns grupos no Facebook que eu sigo, em um deles uma participante publicou sobre a zona de conforto que os profissionais de saúde comentam em relação a depressão e que isso só a faz se sentir culpada. Então resolvi esclarecer alguns pontos pois a compreensão parece bem clara para quem é da área mas este assunto pode gerar dúvidas e até sentimentos negativos em quem sofre.
O que é a zona de conforto? São situações, pensamentos, atribuições e responsabilidades já conhecidos e que não causam ansiedade, medo ou insegurança.
A palavra conforto nos remete ao agradável então parece incongruente relacioná-la a depressão. Imagine uma pessoa deprimida há alguns meses, o que é comum é o diagnóstico ser dado muito tempo depois do início da doença pois os sintomas inicias podem se confundir com preguiça, cansaço, tristeza e outros inerentes ao ser humano e até mesmo acreditar que é assim e não identificar que está em processo depressivo. Esta pessoa considera que chegou ao fundo do poço e não vê uma escada para subir seja porque não enxerga uma melhora ou porque não se considera capaz de reagir, seus pensamentos estão ligados sempre a menos valia, a vida difícil, a incapacidade, a tristeza profunda e a desesperança. Nisso se cria um círculo vicioso pois o deprimido está disfuncional, não realiza as tarefas do dia a dia por mais simples que pareçam ou as realiza precariamente e por isso se considera um incapaz ou um fracassado, o que faz surgir os pensamentos automáticos e o ciclo se reinicia. E assim se gera a zona de conforto na depressão, ou seja, situações e sentimentos já conhecidos. É importante deixar claro que isso pode não ser uma escolha consciente e o deprimido não deve se sentir culpado ou ser culpabilizado. O aspecto importante é a conscientização de que é possível quebrar esse ciclo, procurar tratamento especializado e a princípio sair do estado disfuncional.
Os benefícios secundários são ganhos que os transtornos e doenças psiquiátricas podem promover ao doente. Este ponto também parece ser difícil de relacionar com a depressão pois a princípio não alcançamos algo que ela possa trazer de bom. Agora vamos imaginar a mesma pessoa descrita acima, ela tem uma família estável com quem sempre manteve um bom relacionamento apesar dos altos e baixos, e condição financeira razoável. Sabe-se que a depressão atinge a toda família que muitas vezes não sabe como lidar com a situação e encontra recursos que acredita que sejam os melhores, como dedicar atenção excessiva, prover facilidades, aceitar ataques de irritabilidade em alguns casos e diminuir responsabilidades. Estes exemplos podem acontecer em qualquer âmbito da vida do deprimido, tanto familiar quanto social, profissional e escolar . Assim como na zona de conforto, o benefício secundário também pode ser inconsciente.
Percebem como os dois aspectos podem caminhar juntos? Pois o benefício secundário também contribui para a zona de conforto. Por isso é muito importante procurar ajuda especializada pois um psicólogo pode ajudar não somente o doente mas também os envolvidos em como lidar com a situação.

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